segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Modelo de Conto


Terrivelmente calmo. Calmo e assustador... Era uma noite de inverno na calma e pacata cidade de Primeiro de Maio, interior do estado do Paraná. Seus habitantes, devido ao adiantado da hora, já dormiam profundamente. Entretanto, em um casebre existente no meio da cidadezinha, podíamos avistar uma pequena luz que brilhava em meio à penumbra da noite gelada. Era a luz de uma pequena lamparina na casa de Esmeralda. Esmeralda, moça interiorana, muito tímida e bondosa, não conseguia dormir, não naquela noite! A moça estava sentada em uma cadeira próxima à mesa da cozinha de sua casa. Estava sentada, cabisbaixa e pensativa. O que deveria fazer? Pensava. Deveria contar tudo a seus pais? Deveria expôr seus mais profundos desejos e segredos? Valeria à pena? Ou, deveria esconder tudo aquilo que lhe aflingia e continuar sua vidinha pacata e cômoda? Os pensamentos vinham-lhe com a mesma força e rapidez que seu sangue corria por suas veias. Era quase impossível não pensar... Era quase impossível não sofrer... Mas era dolorosamente impossível tomar uma decisão de maneira tão brupta e inconsceqüente, pois tal decisão acarretaria, terrvelmente, no sofrimento de alguém. Esmeralda era filha única de um casal de sitiantes paranaenses. Seus pais, á muito custo conseguira comprar um pequeno sítio no interior do Paraná. Eram pais prestativos, zelosos e carnhosos. Amavam profundamente à Esmeralda, sua única filha. Aos finais de semana, pela manhã, levavam a menina à igreja, eram batistas. No período da tarde, procuravam levar Esmeralda á passear nos parques existentes na cidade. Faziam piqueniques, corriam, jogavam bola, contavam histórias, se divertiam... Quando chegava a noite, era outra festa: sentavam à beira de uma fogueira, montada pelo pai de Esmeralda, com um tacho de pipocas à mão e conversavam a noite toda. Contavam histórias e lendas regionais para Esmeralda, falavam-lhe acerca de suas juventudes (da mãe e do pai), falavam de seus planos para o futuro da menina: que Esmeralda tinha de estudar para ter um futuro diferente da vida simples que levava junto a seus pais, falavam sobre a vida em si, seus problemas e alegrias... E assim, os finais de semana iam passando e, com eles, a infância de Esmeralda também passava. Esmeralda cresceu. Agora tem vinte cinco anos. Tornara-se uma bela jovem: alta, cabelos negros até a cintura, olhos verdes que mais pareciam duas esmeraldas, pele clara sem nenhuma mancha, não era gorda nem magra, era proporcional. Como toda moça interiorana, estudou até onde lhe fora permitido, ou seja, concluíra o Ensino Médio. Queria ser doutora, advogada! Mas não conseguira. Uma faculdade seria muito caro, em suas condições de moça pobre. Restava-lhe prestar vestibular e ir morar em uma cidade maior, longe de seus pais, para poder estudar em uma faculdade estadual, consequentemente, sem custos. Contudo, deixar sua família não estava em seus planos. Era muito apegada a seus pais. Sem outra alternativa, abandonou seus sonhos... O que poderia fazer? Como poderia viver longe de sua família por quatro ou cinco anos? Mal sabia Esmeralda que seu sofrimento estava apenas por começar...

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